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Opinião Distópica: "Vox" de Christina Dalcher

abril 08, 2019 Inês Santos 0 Comments


Aqui está outro livro com bastante publicidade e que não encheu as minhas medidas.
Começando pelo inicio, achei logo a introdução muito densa, com apresentação de Jackie e da relação da protagonista com esta, mas com demasiados pormenores políticos despejados assim de chofre. Logo aqui o interesse diminuiu apesar de gostar da temática, mas como conheço óptimos romances com péssimos primeiros capítulo continuei a leitura.
Ao longo do livro vão sendo apresentadas as teorias e dogmas políticas e religiosas, que foram expostas de maneira mais calma e enquadrada na história do que na introdução.
Também encontrei alguns pontos algo duvidosos, mesmo para uma história que se passa num possível futuro. Quando a personagem grávida vai para dentro da sala de RM sem qualquer problema deu-se me logo aqui um arrepio de indignação. Sendo médica e cientista devia saber que não é aconselhado, principalmente no primeiro trimestre, por causa do perigo de descolamento de placenta e posterior aborto. E sendo num futuro, imagino que a evolução das máquinas seja para campos magnéticos muito mais potentes do que os de hoje em dia, que já por si são bastante elevados. Mesmo a máquina não estando a trabalhar, a autora descreveu como ligada e para quem não sabe só ligada cria logo um campo magnético que deve ser constante e nunca desligado (isto nos dias de hoje, mas já há novas máquinas que não é assim, mas também não vou entrar por aí). Isto tudo para dizer que, tendo conhecimento de causa, achei uma grande falha, mas que de facto serviu bastante bem para o que a escritora pretendia.
Aqui chego a um ponto muito importante nesta minha opinião. Há histórias cheias de remoinhos de informação e acção, que nos apanham muitas vezes de surpresa, e é aí que lhe damos valor. Neste caso, achei que Christina Dalcher, é daquelas autoras que é muito óbvia no passo-a-passo da sua história e que todas as reviravoltas que a história dá são resolvidas por decisões, acções, etc, demasiado óbvias e que não me convenceram minimamente. Há acontecimentos que desde o inicio já sabemos que vão acontecer, o que não abona nada em seu favor.
Mas as temáticas foram muito bem escolhidas, tanto o ambiente familiar, como a realidade no trabalho, como a supremacia masculina e até há um muro! Portanto, acaba por ser um livro muito actual, apesar de ser distópico. Gostei também do facto da protagonista compensar que desvalorizou os sinais, já que sempre esteve muito confortável no seu dia-a-dia. E assim, só foi mostrado que o facto de estarmos bem hoje, ou mais ou menos, e deixarmos a vida "rolar", fechando os olhos ao negrume que o futuro nos apresenta, não apaga o que aí vem. E hoje nós sabemos de muitos alertas do que vai acontecer, tal como questões ambientais e politicas. Mas estamos todos conformados e sabemos que haverá sempre alguém a lutar por nós.
Fala também no adultério e como as pessoas lidam tão levianamente com esse assunto.
Gostei da ideia das pulseiras e de mostrar muito bem o valor intelectual, não superior mas igual, das mulheres em relação aos homens.
Resumindo, em termos de história e personagens achei muito fraco, mas este livro é óptimo em nos relembrar o que temos que pensar e mostra-nos um futuro fictício mas que no fundo sabemos que não está assim tão longe da realidade.

Estados Unidos da América. Um país orgulhoso de ser a pátria da liberdade e que faz disso bandeira. É por isso que tantas mulheres, como a Dra. Jean McClellan, nunca acreditaram que essas liberdades lhes pudessem ser retiradas. Nem as palavras dos políticos nem os avisos dos críticos as preparavam para isso. Pensavam: «Não. Isso aqui não pode acontecer.»
Mas aconteceu. Os americanos foram às urnas e escolheram um demagogo. Um homem que, à frente do governo, decretou que as mulheres não podem dizer mais do que 100 palavras por dia. Até as crianças. Até a filha de Jean, Sonia. Cada palavra a mais é recompensada com um choque elétrico, cortesia de uma pulseira obrigatória.
E isto é apenas o início.

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