Transcrevo esta opinião já depois de ter relido Aquorea e já depois de ter conhecido pessoalmente a autora (ai credo, não consigo tratá-la assim! Para mim já somos amigas), mas resolvi deixar tudo como escrevi à mão para que fosse o mais sincera possível e em nada influenciada. De qualquer forma, toda a primeira leitura teve o seu toque de influência, porque durante esta mandei e recebi alguns áudios para a M.G. (algumas às duas da manhã - desculpa!) e ela sempre me respondeu de forma entusiasta.
Vamos então falar sobre Aquorea:
Quando saiu em Junho de 2021 houve todo um hype sobre ele, tanto pelas betareaders como por outros leitores. Aqui a Ne, como não gosta de ler quando anda tudo excitado com um livro, decidiu esperar. Sou do contra, que querem que diga! Ou leio primeiro que todos ou leio muito depois - normalmente prefiro o primeiro. Apenas o li em Dezembro quando não resisti a uma leitura conjunta de Natal, mas mesmo assim ainda havia muito barulho em volta dele, por isso quando lhe peguei as expectativas ainda estavam em alta e a minha vertente crítica e minuciosa continuava ali nos píncaros. Maior atenção aos pormenores que menos me fazem gostar de uma leitura, digamos assim.
O primeiro ponto começou no primeiro capítulo, depois de um prólogo curtinho (que adorei), os restantes capítulos pareceram-me algo longos. De qualquer forma, à medida que a leitura avança e já estamos ambientados com as personagens e cenários, esse ponto negativo acaba por se esbater e ser esquecido. Quando a leitura é viciante, quem quer saber se o capítulo tem 10 ou 17 páginas? Chegamos a um ponto que quanto mais melhor!
O segundo ponto tem a ver com Ara: achei-a um pouco repetitiva em relação às suas reacções e pensamentos em relação a Kai e às suas atitudes. Isto desculpa-se claro com ser adolescente e Kai ser sem dúvida um espécime que capta atenção e pensamentos (até sonhos), mas estando ela num mundo novo, com pessoas novas, com pessoas que pensava mortas, com tanto por onde a sua atenção se poderia desviar, a sua atenção para com Kai acaba por ser algo desproporcional. Talvez eu diga isto por ser equipa Colt e por isso quem é team Kai não irá desgostar nada deste protagonismo inicial.
Outro ponto, mas aqui é mea culpa e da minha imaginação, com a capa (que adoro de paixão), sinopse e trailer, o meu cérebro criou logo uma história ainda mais fantástica (no sentido ficcional) em que Aquorea era um mundo de sereias - o que não é e não vou falar mais para não dar spoilers. Mas por isso, quando Ara chega a Aquorea acabei um pouco desiludida. Desilusão que não durou muito porque a M.G. pegou neste mundo e mostrou todos os pormenores que nos fazem querer viver nele e ter vontade de ir ali atirar-me ao mar a ver se lá vou parar. O dialecto, a comida, as tradições, até a flora! e a fauna!, política, etc. Não esperem um mundo sub-aquático só ali como cenário. Não! A escritora criou algo muito mais profundo, nos dois sentidos, que responde a cada pergunta que nos vai surgindo à medida que avançamos.
Apesar dos capítulos de muitas páginas, a acção desenrola-se muito fluidamente, isto graças a uma escrita leve com diálogos naturais e recorrentes. Quando temos alguma descrição nunca são demoradas ou entediantes, pelas razões que falei no paragrafo anterior.
Sendo autora nacional, estava à espera de uma escrita mais eloquente e filosófica (que não gosto), mas em vez disso todo o texto é adequado à idade das personagens e de forma bem directa. Não há cá "palha" para ninguém e por isso foi fácil viciar e ler este livro de quase 600 páginas. São percetíveis também algumas influências/inspirações americanas e havaianas, tal como o Kai fazer lembrar o Mamoa no seu papel de Aquaman e a Ara a Mohana (tudo recusado pela autora quando lhe disse ahahah, mas o déjà vú está lá).
As teorias (e os áudios) começam logo cedo porque começamos a encontrar pequenas dicas e pistas ao longo dos capítulos. A questão é que ansiamos por elas e ansiamos por desvendar tudo. Enganem-se se pensam que vão-se armar em Sherlocks e descobrir tudo! Nem todas as respostas estão neste primeiro livro malta e por isso mais vale relaxarem e aproveitarem a viagem. Não se esqueçam de ir partilhando com a M.G., ela é perita em aumentar a nossa curiosidade e ansiedade. Ainda diz ela que tem uma úlcera! Devo ter uma, fora as taquicardias, com todos os acontecimentos de parar o coração que ela escreveu aqui.
Outro ponto que não adorei foram as descrições de certas acções. Há uma cena em que Ara é atacada e este ataque é descrito na primeira pessoa (como todo o resto do livro) com algumas descrições de movimentos, mas não temos a presença de dor, ou emoção, ou medo, ou outros pormenores que me acostumei a ler noutros livros de acção e fantasia. Este ponto foi falado com a M.G. que me explicou que o intuito de uma descrição assim é para a acção ser mais rápida e dinâmica. Percebi, mas de qualquer forma gostava de mais porque achei que não consegui entrar bem na cena.
Curiosamente, e até eu estou admirada, o romance acabou por ser o ponto menos excitante. Talvez por ser óbvia a ligação entre a Ara e o Kai e apesar de gostar de acompanhar a evolução da sua relação e de adorar toda a tensão sexual entre eles, com umas cenas bem curiosas que se passam e que a minha veia romântica palpitou bastante, achei que soube a pouco, principalmente quando eles se entendem. Como há muito suspense e a história leva-nos numa caça aos vilões (com muitas reviravoltas), eles acabam por não conseguir ter muito tempo para eles e acabamos por não existir muitas cenas de cumplicidade de casal. Isto tudo fica resolvido por agora irmos ter um livro pelo ponto de vista do Kai e sabendo que esta história não acaba aqui. Aquorea acaba por ser o inicio e uma entrada para que agora possamos ter mais destes dois queridos e dos seus amigos e família.
Por falar nos personagens secundários, não posso deixar de referir que adorei todos eles! M.G. consegue mostrar-nos personagens tão cativantes como os protagonistas e por isso ansiamos por cenas tanto com Ara e Kai como com Petra, Mira, Wull, Isla e claro... Colt.
Vamos falar do Colt? Claro! Adorei este personagem por ser alguém de coração puro e doce. Claro que não é perfeito, mas foram todos os acontecimentos que se passaram com ele que também que me fizeram ansiar pelos capítulos com o seu ponto de vista. A busca por Ara acaba por ser monótona, mas a autora conseguiu desenvolvê-la de maneira a complementar o outro ponto de vista. Equilibram-se perfeitamente mas também me fez querer mais, mais histórias paralelas, mais de Colt e claro... o seu final feliz. Aliás, uma das minhas cenas preferidas e que achei das mais (mas não a mais) emotivas foi com este personagem, que muita gente detesta, mas que eu a-do-rei! *suspiro*
A autora não se priva de nos surpreender e partir o coração, ou até os dois aos mesmo tempo, e por isso a leitura de Aquorea é sôfrega e ansiosa; características que não se encontram facilmente na literatura nacional (pelo menos a que eu tenho lido). Esta leitura deu-me esperança e vontade de investir mais em escritores portugueses e por isso 2022 tem sido um ano de investimento. Quero mais ficção nacional e quero conhecer mais M.G. Ferrey's.
Agora só me resta ansiar pelo Shore Desvendado, que me vai dar mais um pouco de Aquorea. Mas o que anseio mesmo mesmo é a continuação deste primeiro livro, porque eu preciso de respostas para ontem.
Não quero deixar de salientar a genialidade desta autora em que uma das pistas está na capa... e mais não digo.
Para finalizar, o porquê de não ter dado as cinco estrelas - ao ler e até reler Aquorea (releitura esta que recomendo porque vai ser toda uma nova experiência), e apesar de toda a ansiedade que tenho para ler o resto, achei que sendo mais direccionado para jovens adultos, acabou por não me conquistar a 100%. Ainda não estou apaixonada completamente por Ara nem Kai, mas todas as trilogias que li e amei (incluindo a minha diva Sarah J. Maas ou até a Holly Black) começaram com quatro estrelas e estou super confiante que os seguintes vão ter nota máxima. Para um primeiro livro, acho que Ferrey conseguiu atingir e ultrapassar todos os seus objectivos e fico muito feliz por ela, mesmo!
Muito orgulho em ti amiga.
Espero que mais pessoas leiam e adorem o mundo de Aquorea, mas também espero ter mais pessoas na minha equipa ahahah.
No dia do funeral do avô, Arabela Rosialt afoga-se e, quando acorda, reencontra-o. A sua vida sofre uma reviravolta avassaladora ao descobrir que está em Aquorea: uma exótica e milenar comunidade que prosperou milhares de metros abaixo do nível do mar.
Kai, um rapaz de inescrutáveis olhos azuis, com um comportamento enlouquecedor, umas vezes frio e sisudo, outras vezes arrebatador, atrai-a e repele-a em simultâneo. Deixando-a louca de raiva... e de desejo.
Apesar das saudades infindáveis da sua família, Ara sente-se irresistivelmente atraída pelas novas amizades, a vida agitada e a existência daquela comunidade excêntrica, mas extremamente calorosa.
Tudo parece perfeito, até que alguns habitantes de Aquorea começam a morrer. Quando ela percebe que, afinal, o seu mergulho não foi coincidência e que dela depende a salvação ou condenação daquele mundo, terá de enfrentar a decisão mais difícil da sua vida.
Colocando as suas diferenças de lado, ambos tentarão perceber quem está por detrás dos assassinatos e daquela misteriosa conspiração.