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Opinião Contemporanea: ''Uma Verdade Simples'' de Jodi Picoult

março 23, 2018 Mafi 0 Comments




Depois de em Fevereiro ter-me desiludido um pouco com um livro da Jodi, sinto que com esta leitura de Março, a autora voltou a acertar e trouxe um livro muito bom.

38492182O que talvez mais goste na autora é ela conseguir sempre introduzir diferentes cenários nos seus livros com alguma pesquisa mas sem serem aborrecidos. Desta vez  iremos conhecer a comunidade Amish de uma pequena cidade americana. Para quem não sabe os Amish são um povo religioso que surgiu na Alemanha (e isso é bem patente no livro com várias frases em alemão). A sociedade espalhou-se pelos Estados Unidos e Canadá mas hoje em dia são uma minoria (aproximadamente 150 mil). São um povo conservador que tenta viver a vida de maneira simples (daí o título do livro). Não acreditam/usam em tecnologias e até mesmo electricidade.  Vivem em quintas, cultivam os seus produtos e comem da terra. Tudo o que represente avanço é contra os valores tradicionais dos Amish, que como povo de culto, a religião está em primeiro lugar. 


Eu já conhecia esta comunidade mas não sabia a fundo de alguns valores e crenças. Creio que a primeira vez que ouvi falar deste povo foi na televisão, na Oprah,  quando ela entrevistou alguém que saiu desse ''regime''. Isto é também um dos pontos falados no livro. Há quem saia da comunidade e o que mais achei de interessante é que há possibilidade de voltar, porque os ''Amish'' são pessoas do bem e só o facto de negar  ajuda e afecto para com alguém ''dos seus'' , vai contra os seus princípios.

Adorei que a Ellie fosse advogada de defesa e não de acusação e que ela própria soubesse que nem sempre defendia os inocentes, muito pelo contrário. O facto de ela já ter antecedentes Amish tornou o enredo muito mais intrigante e via-se bem o seu debate interno entre ser competente no seu trabalho, da maneira que ela sabia ser mas ao mesmo tempo não desrespeitar a comunidade com a qual estava a trabalhar. Outra dualidade com que ela se debate é não acreditar na inocência da Katie, embora ao longo do livro desenvolva uma relação de amizade com a jovem. Por fim, nas páginas finais acontece algo que deixa a Ellie mais baralhada em relação a todo este mistério, mas como é spoiler vou deixar-vos sofrer um pouco. 

Depois da Ellie a minha personagem preferida foi a Katie. Não temos um ponto de vista dela pela primeira pessoa mas conseguimos ter um bom retrato psicológico desta jovem adulta que cresceu depressa demais e perdeu-se com o mundo exterior numa saída para visitar o irmão Jacob (que decidiu continuar os estudos na Universidade e saiu da comunidade tendo obrigatoriamente cortado relações com a família, mantendo apenas contacto com a irmã em segredo). 

Embora o ponto principal seja o assassinato do bebé, acho que o tema central sem dúvida são os Amish, especialmente o sistema judicial, quando eles nem acreditam ou seguem qualquer legislação. Foi muito interessante ver que até às próprias testemunhas tinham dificuldade em jurar em tribunal. Todos os costumes de viver uma vida simples vão de encontro ao facto de alguém querer matar um bebé e isso cria ainda mais conflito em toda a trama. 
De modo a aligeirar o livro, ainda há uma pitada de romance por parte da Ellie que achei desnecessário, embora tenha um meio para um fim muito específico. 

Uma coisa que não gostei foi a parte da Hannah, irmã da Katie e do Jacob e não gostei muito daquela história dos fantasmas mas foi apenas um pequeno ponto negativo. 

O final foi o esperado, pelo menos da minha parte. Já ao início tinha formado duas teorias de quem podia ter assassinado o bebé e adivinhei umas delas, por isso o final para mim foi previsível mas satisfatório. 

Se é o melhor livro da autora? Não, de todo. É um livro que foi publicado originalmente há 18 anos atrás e por essa altura já a autora tinha um percurso de grandes livros. Este é um bom livro para quem quer começar a ler Jodi e não queira ler logo os melhores da autora com medo de ir com expectativas elevadas e não gostar. É um livro com um enredo sólido e boas personagens e com o melhor que esta autora sabe fazer: pensar sobre a sociedade de hoje em dia e os nossos valores. Numa altura em que tanto falamos por redes sociais mas cada vez há mais solidão, temos um povo que nem telefones fixos utilizam mas que não falta companhia física e uma mão aberta para ajudar. E se calhar eles é que estão bem. 


A descoberta de um bebé morto num celeiro dos amish abala profundamente a comunidade. Mas a investigação policial conduz a uma descoberta mais chocante: há provas circunstanciais que sugerem que foi Katie Fisher, uma jovem amish solteira de dezoito anos, que se julga ser a mãe do bebé, que lhe tirou a vida. Quando Ellie Hathaway, uma advogada desiludida da grande cidade, chega a Paradise, na Pensilvânia, para defender Katie, dá-se um choque entre as duas culturas e, pela primeira vez na sua carreira fulgurante, Ellie enfrenta um sistema de justiça muito diferente do seu.
Mergulhando profundamente no mundo daqueles que vivem uma «vida simples», Ellie terá de chegar a Katie. E, ao desvendar uma morte complexa, Ellie é obrigada a olhar também para dentro de si, para confrontar os seus medos e desejos quando um homem do seu passado entra de novo na sua vida.

 

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