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Opinião da Ne: "Prova-me" de Lúcia Vaz Pedro

agosto 30, 2021 Inês Santos 0 Comments

Quando este livro saiu, olhei para a capa, li as frases nela e li a sinopse e decidi que o iria comprar em pré-venda. E foi o que fiz. E fiquei tão contente com o facto de ser de uma escritora portuguesa!

Finalmente chegou com as expectativas em alta. Comecei então a ler e foi tudo por água abaixo. 

Primeiro que tudo, um livro narrado na primeira pessoa atrai-me muito mais do que na terceira, portanto logo aí desmoralizei um pouco. Além disso todo o texto está escrito de uma forma que eu digo que é "tipicamente portuguesa", diferente dos tempos verbais ou construção de frases dos livros traduzidos. Não sei se é por estar mais habituada ou se é mesmo gosto pessoal. Não consigo explicar mas faço questão de ir estudar gramática para tentar explicar o que não gosto neste tipo de escrita.

Tive muita dificuldade em ler os primeiros capítulos, mas depois de uma pausa consegui retomar e ir até ao fim, mas sempre com aquela estranheza na leitura. A autora escreve tudo muito floreado, ora com frases curtas e várias cenas diferentes no mesmo capítulo com protagonistas diferentes, ora tem frases longas com pouca pontuação.

Falemos de Raquel, a protagonista e centro de toda a peça. Não consigo não pensar em Layla do livro com o mesmo nome de Colleen Hoover, apesar de Raquel ser uma personagem com emprego e objectivos de vida e de carreira, mas não consegui criar ligação com uma mulher que consegue tudo seduzindo tudo e todos, gasta dinheiro que tem e não tem, e vive a vida em função do sexo e do dinheiro. Notamos algo positivo em relação à amizade que tem para com Isabel e carência de afectos maternos; mas mesmo assim achei tudo muito supérfluo, principalmente nas cenas com os pais. A autora tenta criar ali um mistério em relação à frieza da mãe, mas é tudo muito óbvio e quando finalmente o leitor descobre são cenas muito rápidas e "mal contadas".

As relações de Raquel são sempre fúteis, é uma personagem completamente ninfomaníaca que não tem a mínima noção do amor e de lealdade. Não tem noção do que é ser-se fiel e usa o corpo para tudo. Além disso é 100% vaidosa e hiper-confiante de si, tendo sucesso nas suas conquistas até quando conspurca outras personagens e relações.

Entretanto conversei com a autora que me disse que o objectivo dela foi criar personagens reais e que evoluem; que ela própria não gosta da protagonista. Comparou também esta obra a clássicos portugueses que têm personagens cheias de defeitos. Eu compreendo essa parte, mas eu não gosto de clássicos portugueses. Gosto sim de uma história com um personagem com quem eu consiga criar ligação e me ajude a envolver na história. Aqui não há nada que eu crie empatia e confesso que a evolução de Raquel foi muito pouca e só no final. Ora se eu não gostei de ler esta história não vou querer ler mais nada daqui para a frente e tenho muita pena.

Mas continuo a perceber que esta protagonista ou este livro não é para todos. Talvez seja por isso que não adoro livros de terror ou suspense, porque não há um herói, apesar de que ter um assassino como protagonista é muito mais cativante pela sua maldade e distorção da realidade, do que ter uma Raquel que não passa de uma mulher mimada e superficial, com defeitos reais sim, mas que peca pela futilidade e acaba por não ter conteúdo nenhum para nos atrair.

A sinopse promete uma cena dela vendada que demora imenso a acontecer, por isso até lá é como se fosse uma longaaaaaa introdução onde conhecemos Raquel e Álvaro. Também temos a amiga Isabel com uma história um pouco paralela, mas mesmo essa completamente irrealista e que não me convenceu minimamente. O mistério de quem é o homem da sinopse além de ter sido tardio também não teve mistério nenhum, mas mesmo quando tudo se revela é uma mixórdia de revelações em poucas frases e depois... nada.

O que Lúcia Vaz Pedro tem de positivo aqui são as descrições tanto de cenários como dos actos sexuais. Dá-nos muita variedade, mas falha nas emoções, mas talvez porque as personagens sejam meros figurantes em todas as cenas.

Voltando às personagens, a certa altura temos Álvaro, o marido de Raquel (está na sinopse), que é uma personagem que se altera e muito até ao final. A autora consegue mesmo tirar qualquer empatia que temos por isso foi mais um que desiludiu e que não conseguimos gostar. Nem da cunhada de Raquel gostei! 

Olho para um romance destes, que de romance pouco tem, e que acaba por ser mais um guia de algumas maneiras de fazer sexo, para não dizer outra palavra. Mesmo com o sentido de amizade e família, nada tem grande relevância nesta história. Acabam por ser cenas que só servem para interromper esta linha já meio tracejada. Acabei por ler em modo automático o que significa zero prazer de leitura. Espero não me estar a repetir.

No final... bem não há final. Não quero fazer spoiler mas esta opinião não consegue não comentar pontos que me deixam completamente frustrada. Depois de ler o livro com algum esforço, mesmo quando prometi a mim mesmo não perder tempo com leituras que, na minha opinião, não valem a pena, chego ao fim e... nada.

Termino este livro pouco desiludida, porque o inicio já nos mostra o que nos espera, mesmo assim insistimos, lemos um rol de cenas eróticas que cada vez ficam mais rápidas e resumidas, aturamos as personagens que não correspondem em nada aos meus valores de vida. Bem vistas as coisas, este tipo de personagens normalmente são os vilões dos romances e não os protagonistas, mas ultimamente ando a ler demasiados livros assim. Mas uma pessoa que gasta 14€ num livro em pré-venda não consegue desistir dele facilmente porque se o fizer é dinheiro deitado ao lixo mesmo que o revenda por 10; por outro lado queremos dar oportunidade por ser um autor português e por termos esperança que no fim algo valha a pena.

Reparei também que este livro não tem nota da autora nem agradecimentos. Não me faz diferença, mas será que a autora não tem a agradecer nada a ninguém?

Como a Joana Latino disse hoje, esta "é uma crítica feroz", mas espero que não seja injusta. São os pensamentos de uma leitora que pagou por este livro, tem mais 100 para ler mas optou por este e ainda lhe deu prioridade. Tenho aqui mais 3 livros de autores portugueses para ler que me custaram ainda mais que este e só rezo para que não sejam como este, porque se não vão ser livros inacabados e eu vou escrever uma critica honesta e sincera como esta.

Ao fim de dez anos de casamento, Raquel sente-se cansada da rotina sexual. Para manter acesa a chama da paixão, decide desafiar o marido a proporcionar-lhe uma nova experiência. Ele acede ao pedido e oferece-lhe uma noite inesquecível com outro homem. Só impõe uma condição: Raquel terá de estar sempre de olhos vendados.
O que era para ser um simples jogo transforma-se numa obsessão. Raquel não consegue esquecer o homem com quem esteve, aquele que o marido lhe colou à pele. Agora, tudo o que ela mais deseja é descobrir a pessoa que mudou a sua vida para sempre. Quem é ele? Que memórias terá daquela noite? E, mais importante ainda, conseguirá o seu casamento sobreviver ao momento em que finalmente o encontrar?

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