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Opinião da Ne: "A Anos-Luz" de Carmen Garcia

agosto 27, 2021 Inês Santos 0 Comments

Carmen Garcia é uma enfermeira e mãe de dois fofos que tem muito jeito para a escrita e, por isso, quando descobri que ela tinha escrito um livro de ficção fui a correr adquiri-lo (obrigada Ego Editora pela cedência do exemplar). Já tinha o livro Os 10 Mandamentos de uma Mãe Imperfeita mas o registo é totalmente diferente deste por isso as expectativas estavam em alta.

Ora A Anos-Luz é sem dúvida uma distopia de jovens adultos, e uma bastante actual, digamos assim. Temos então dois planetas, um príncipe e uma princesa, que se têm que casar para bem da saúde dos dois planetas e dos seus ocupantes. Cada um com a sua educação e claro completamente diferentes, por isso a sua união não é de amor... ao inicio.

Comecemos então a falar dos pormenores. Apesar da autora ter uma imaginação muito boa e ter criado um mundo novo de forma bastante eficiente, penso que falhou apenas no sentido em que quis criar um mundo novo, mas para tudo ser compatível para esta história de amor a certa altura essas diferenças já tinham quase desaparecido. Por exemplo, Lia tem sangue prateado, mas cora como os humanos - teria que ter sangue vermelho para corar, certo? Curiosamente li um livro em que o personagem também tinha sangue prateado, mas quando corava era descrito como uma cor de bochechas mais clara ou mais intensa, nunca como "corar". Ok, posso estar a ser picuinhas, mas quando estava a ler estes pormenores fizeram-me diferença no ritmo de leitura, porque não batia certo.

Outra questão é a preferência de cores de Lia: vermelho intenso, preto. Ora ela é branca. Com os seus olhos violetas e cabelo negro, não consigo visualizar como este jogo de cores ficaria bem. Mais uma vez picuinhas, mas passemos à frente.

Durante o romance temos envolvimento físico, tudo certo, mas a questão é que Lia foi educada a não acreditar em contacto físico, em sexo, em ser tudo muito limpo e distante, tudo em laboratórios, mas depois a relação entre eles (que se odeiam tanto, mas atraem-se) acontece logo demasiado rápido. Para uma virgem e para alguém criada num mundo tão frio, a mudança foi muito rápida. Aqui "desculpei" com uma justificação que depois a autora dá sobre a sua libido voryana e também por ser um romance algo curto. Mas, não deixou de me fazer certa confusão este à vontade em permitir coisas ao príncipe tão intimas para quem não se conhece, não se gosta e que tem receio e ignorância nestas coisas.

Gostei bastante dos POVs alternados entre Arthur e Lia, tal como das promessas de romances paralelos ou futuros (fico à espera desses). Gostei também dos vários mistérios que surgem e dos contributos da formação da autora na história. São pormenores desnecessários a meu ver, mas para quem trabalha na saúde enriquecem as descrições.

A escrita é muito fluída e é uma história muito bem estruturada, mas como adoradora de fantasia/ficção, achei Lia demasiado humanizada, não só na sua anatomia, mas como no gosto pelas flores e pela comida. Como já disse, foi criada uma compatibilidade para tudo mas sinto que faltava aqui mais qualquer coisa como podemos encontrar em livros como ACOTAR ou Príncipe Cruel, em que há humanos e não humanos, mas tudo funciona. De qualquer forma, vão sempre surgindo reverências a Vory e ao planeta de Lia.

Lia tem um pormenor interessante que no inicio me pareceu algo desnecessário em relação a Arthur, mas depois acabou por haver um propósito melhor do que ser usado só entre o casal, digamos assim.

Gosto sempre de uma linguagem com asneiras como a de Arthur, mas a certa altura Lia começa a mudar também a maneira de falar e fica tudo muito igual, não se notando muita diferença nos POVs e deixando a personagem de uma extraterrestre de 21 anos fria e educada, para uma adolescente de 16 anos com vocabulário mais jovem e menos adulto. Não é algo muito evidente que me tenha feito gostar menos da personagem, mas diminui um pouco a minha empatia com a protagonista que tive na primeira metade do livro.

A temática das alterações climáticas também é muito evidente. Sinceramente acho que roubou ali um pouco o romance do casal, mas as cenas eróticas compensaram e no fim acabou por haver um equilíbrio satisfatório.

O twist final foi muito bem pensado e não estava à espera - portanto ponto alto do livro. Pensava mesmo que as reviravoltas iam acabar numa parte, mas depois Carmen Garcia surpreendeu com mais uma e muito melhor.

Gostei também do fim ter sido deixado em aberto e estou ansiosa pela história de Elena.

Estranhei não haver uma nota da autora nem agradecimentos. Agora leio sempre à espera de mais pormenores sobre a história ou sobre pensamentos da autora.

Resumindo e concluindo, depois da desilusão de Prova-me, este livro de autora portuguesa foi uma óptima surpresa. Tenho pena de não ter gostado mais, mas foi uma leitura muito boa e o facto de querer continuar a ler mais da autora já diz muito. Além disso também me soube a pouco o que também é um bom sinal.

No dia em que completa vinte e um anos, Lia, a bonita princesa de Vory, é transportada para a Terra para cumprir a missão para a qual foi treinada durante toda a sua vida: casar com o príncipe herdeiro do trono terrestre e, assim, assegurar a paz entre os planetas.
Mas apesar das infinitas aulas sobre a Terra e os seus habitantes, nada a podia ter preparado para o facto de Arthur, seu prometido, desrespeitar a única regra que, para ela, sempre foi sagrada: evitar, a todo o custo, qualquer contacto físico que configurasse intimidade.
Agora, no centro de um planeta ainda a reerguer-se de uma guerra sanguinária, Lia vai ter que perceber se deve continuar presa às verdades que conhece ou se é altura de entregar o seu coração e o seu corpo ao príncipe que, atrás dos seus olhos verdes, esconde as chaves que abrem todas as portas do paraíso mas, também, todos os portões do inferno.

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