, , ,

Opinião Histórica: "Duas Mulheres, Dois Destinos" de Lesley Pearse

janeiro 15, 2018 Inês Santos 3 Comments



Duas Mulheres, Dois Destinos foi uma grande desilusão para mim. Adorei Nunca Me Esqueças, gostei mais ou menos d'A Melodia do Amor, mas este não me encantou muito.
Sim, a história é boa, tem muitos acontecimentos, tem referências históricas, tem vários romances a acontecer, várias desgraças também, temos heróis e temos vilões.
A história é principalmente sobre Verity e não sobre duas raparigas, como lemos na sinopse ou até no título. A quantidade de história pertencente a Ruby é quase igual à de Archie, por exemplo, o que acaba por quase a empurrar para o grupo das personagens secundárias.
Já agora falando no subtítulo "O acaso juntou-as. Irá a guerra separá-las?". Bem eu nem sei onde começar. Não foi o acaso que as juntou, primeiro que tudo. Foi um homem morto que apareceu ali na rua (esse primeiro diálogo foi quase tão mau como os que apresento nas citações seguintes) e elas estavam lado a lado a ver o "espetáculo". Depois, a segunda frase... a guerra aqui está sempre em quinto plano, lá bem longe. Só no final é que a guerra chega a eles e aí sim é que começa o verdadeiro entusiasmo. Pena que foi só no início. E a guerra não as separou nem juntou, só serviu de plano de fundo.
Mas vou esmiuçar um pouco mais.
Começando pelo que achei ser o pior de todo o livro: a escrita. Penso que aí é que residiu o principal problema. Não sei se foi a tradução ou não (sinceramente acho que não, porque mesmo traduzindo para inglês não me soou nada bem), mas ao ler este romance com temáticas tão pesadas como a prostituição, a violação, a negligência parental, para não falar da segunda guerra mundial, ao ler a maior parte do texto a sensação que tinha era que estava a ler um romance pobre, escrito por alguém que ainda não amadureceu a escrita e que ainda não percebeu que forçar diálogos e forçar acontecimentos torna tudo mais falso e a leitura o oposto de fluída. Se não soubesse quem tinha escrito isto, nunca diria que tinha sido Lesley Pearse.
"Ele segurou-lhe o rosto com as mãos, aproximando-o. - Não me parece que saibas o que significas para mim - disse, com os olhos no dela. - Passei este tempo todo com muito receio de dizer alguma coisa porque fiquei com a impressão de que tinha tido uma experiência má com um homem. Mas agora tenho de falar Verity, antes de partir. És a rapariga dos meus sonhos." (página 214)
"Verity agarrou-lhe na manga do macacão. - Não me parece que ela consiga aguentar durante muito mais tempo. É uma pessoa corajosa, mas está a fazer um miado horrível e eu sei que é por não se atrever a gritar com medo de que desabe tudo à volta dela. Por favor, por favor, procure-a agora!
Ele olhou para ela, esboçando um pequeno sorriso. - Defendeu bem a sua amiga. Muito bem. No segundo andar, não é?" (página 349)
Aqui estão dois excertos que exemplificam a meu ver o que eu quis dizer. Não sei se concordam comigo, mas digam-me lá se, por exemplo, no segundo excerto quem é que diz isto? Quem fala assim? "Defendeu bem a sua amiga" quando tinha havido um bombardeamento e este homem era um dos paramédicos que estava a salvar as pessoas? Desculpem-me mas isto parece me algo saído de uma novela dobrada de baixo custo.
Não me recordo minimamente dos outros dois livros serem assim.
Seguindo para o próximo ponto, as referências históricas. Ao contrário dos outros dois que li, ambos na conquista da América, aqui avançamos um pouco mais. A autora faz referência a Pearl Harbor, a Dunquerque (vi o filme recentemente), a Hanneke (referências de A Rapariga do Casaco Azul), etc, que despertam aquele sentimento de reconhecimento. Não é mau, mas acho que ela podia ter desenvolvido muito mais esta parte história e da guerra e de outras desgraças, em vez de relatar uma vida que quase é normal, excepto alguns intervalos em que Verity sofre imenso. Aqui o 8 ou 80 é típico desta escritora. Ela nunca deixa a personagem em paz e fá-la sofrer imenso, o que eu nem discordo nem condeno, mas depois volta tudo ao normal num instante. Só acho que em vez de quantidade devia haver qualidade. Devia esmiuçar mais o ambiente e os sentimentos, em vez de adicionar acontecimentos terríveis mas demasiado rápidos.
Achei que Archie teve demasiado protagonismo. Aliás, cheguei mesmo a saltar um capítulo inteiro sobre o passado dele. O que é que interessa o passado dele? Já percebemos que ele é mau só do presente! De qualquer forma foi uma personagem com um papel importante na história, apesar de achar, mais uma vez, que os seus actos/crimes, eram demasiado rápidos.
Adorei Ruby e Wilby. Ruby aparece e depois desaparece, enquanto que Wilby aparece no meio e nunca mais nos abandona. São duas personagens muito ricas, corajosas e com personalidades muito fortes. Ao contrário de Verity, que é um pouco mais fraca e cheia de incertezas.
Não gostei muito, nem percebi a existência, de Bevan. Acho que apenas foi atrapalhar outro romance e apenas foi acrescentar linhas ao livro. No final, a autora quase nos faz acreditar que é ele que muda tudo, mas afinal é uma pista falsa. Muito fraquinha por sinal. Porque por mais que Verity tivesse desabafado não iria alterar assim tanto os sentimentos de uma hora para a outra como Lesley Pearse nos quer fazer pensar.
Não gostei de Miller. Achei-o um pouco insosso e nada atraente, e mesmo quando muda continua uma destas (não vou dizer qual porque já estou a falar muito da história).
Mas nem tudo foi mau - gostei das cenas mais "agressivas", mesmo sendo curtas, das desgraças por que Verity e Ruby passam. São momentos mais emocionantes em que nos compadecemos com as personagens e existe uma certa compaixão e ligação com estas. Mas sempre enfraquecido pela forma como tudo é descrito.
Vou ler os restantes livros da autora, mas se isto se voltar a repetir vou acabar por desistir. É uma pena, porque a história está lá e as personagens também.

Na primavera de 1935, em Londres, duas jovens observam enquanto a polícia retira o cadáver de um homem de um lago. Elas vêm de mundos completamente diferentes. Ruby é filha de uma prostituta alcoólica e só conhece a pobreza e o abandono. Verity, de boas famílias, vive com todo o conforto que o privilégio garante. Mas, nesse dia, começa entre ambas uma amizade que perdurará ao longo do tempo.
O destino, porém, não tardará a mostrar quão traiçoeiro pode ser: ao passo que Ruby encontra, por fim, um lar onde é amada e acarinhada, Verity sofre revés atrás de revés, e um terrível segredo do passado ameaça destruí-la. A Grã-Bretanha prepara-se para a guerra, a conjuntura é turbulenta. Apesar disso, ambas continuam presentes na vida uma da outra... até ao dia em que uma delas profere as palavras: “Morreste para mim”.
Num país dilacerado pela guerra, poderá a amizade sobreviver?
Duas Mulheres, Dois Destinos é um romance épico que nos fala de lealdade, amor, e da força dos laços de amizade perante as mais duras adversidades. Como sempre, Lesley Pearse não desilude...

3 comentários:

  1. Nunca li nenhum dos romances históricos da Lesley Pearse... mas li dois contemporâneos e a experiência foi mais ou menos a descrita aqui x) Maus diálogos, escrita mais ou menos, personagens que existem só para sofrer desgraças e pouco mais. Não gostei.
    É verdade que o que de melhor falam da escritora são os históricos, mas estou a ver que nem esses se safam... ou pelo menos alguns! Tenho de ler pelo menos o "Nunca me Esqueças", que é quase universalmente aclamado :)
    beijinhos!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Obrigada pelo teu comentário Mariana, assim não me sinto tão sozinha porque às vezes sinto que eu é que sou demasiado crítica. Que o problema não é do livro, é meu XD

      Eliminar
  2. No meu dicionário não existe o termo "demasiado crítica". Eu própria gosto de rever coisas ao pormenor :) e gosto destas opiniões.

    ResponderEliminar

Dar feedback a um post sabe melhor que morangos com natas e topping de chocolate!